Desde ontem há
algo um pouco estranho em meu metabolismo. Nada preocupante, algo de
estranhamento com algum tempero. Um burburinho interno, que não dá enjoo, nem
solta o intestino.
Noite mal
dormida. Acordo cedo, arrumo malas, ando um pouquinho e vou para a Estação. Um
frio intenso e restos da neve que caiu ontem à noite.
Encontro uma
sala quentinha para espera. Com tomada para ligar o computador e ler bastante.
Tive que tirar
a passagem em local especial por ser viagem internacional.
A surpresa é
que é um trem velho e apertado. Comprei água e maçã, pois o nariz não está
gostando de cheiro de comida.
Castigo do
destino. Na minha cabine está um chinesinho, desses jovens que vem estudar por
aqui. Tem um balde de frango da KFC, uma porção enorme de batatas e um tanque
de refrigerante. O pior é que os chineses fazem um barulho enorme para comer,
estala a língua, falam de boca cheia. Eu odeio gente que faz barulho para
comer. Essa é uma diferença cultural que ainda não superei. Trauma de infância.
Moral da história,
noite mal dormida, cheiro de comida para quem não está muito legal, barulho
exagerado e tentativa de puxar assunto não é uma expectativa muito boa para uma
viagem que deve durar mais de 10 horas.
Vamos fazer
exercício de abstrair. Se meu mundo cair...eu que aprenda a levitar.
Passamos por
uma periferia feia, um lixão enorme, fedido e com correntes de água ao lado. Essa
é a diferença em viajar assim de trem, percorrendo todo o País. A gente vê
mais. É assustador passar de uma Áustria ou Alemanha, mesmo de uma Hungria pra
a realidade da Romênia. Tão juntos, ha geografia e na história. Tão distantes.
Tenho gostado
tanto de estudar que a companhia do Freud ajuda muito.
Alguns campos
de petróleo e algumas refinarias. Gente, tudo enferrujado.
Claro que depois
de quase três, acabou o frango, a batata... mas tinha um saco de mexericas.
Continua cheiro e barulho.
Depois da
aventura da fronteira. Uma mulher foi pega sem passaporte, chorou, fez
escândalo, alegou inocência, mas não tem conversa. Foi posta para fora do trem.
Logo depois a
travessia da ponte da fronteira. Uma ponte muito alta. O trem passa devagarinho
e a gente tem certeza que qualquer vento mais forte vai derrubar a gente de lá.
Em todo caso
surge a primeira impressão da Bulgária. Do outro lado da ponte, um centro
industrial, porto, muitas usinas atômicas.
Uma cidade
grande, com prédios e avenidas mas modernas, melhor conservadas.
A estação já
mais limpa e arrumada. Não tem mais mato nos trilhos. Isso assusta ainda mais,
reforça a diferença da Romênia.
Um lindo
entardecer. Estou melhor e permanecemos trancados em nossa cabine os mesmos
três que saíram de Bucareste. Cada um com sua telinha, em seu mundo.
Claro que
quando estava relaxando, era outra mexerica. E depois abriu um pacote de
biscoito.
Até que fui me
adaptando, quando abria a mochila eu tinha uma sensação de cansaço e de
intolerância, mas, respira fundo e aprende a conviver....
Depois que o
Romeno desceu, ficamos só os dois na cabine. Como eu não alimentei muito a
conversa no inicio da viagem, só observava a impaciência dele. Coitado um
jovem, com toda energia e que gosta de conversar, estar com um cara que fica
lendo o tempo inteiro.
Mas a maior
prova de paciência, foi quando ele tirou o sapato. Sabe aquele negócio de chulé
de jovem em férias, longe de casa...
Eu não tive
outra saída. Abri a porta, como frio estava intenso, ele resolveu se proteger.
Que loucura. Um rapaz simpático, bem
intencionado e bem educado. Não estava fazendo nada para provocar ninguém, mas
as diferenças trancadas em uma cabine, sem poder se comunicar, chega a ser
muito divertido.
Tudo isso ainda é pouco.
O trem para em uma estação que não tem nada, nem um caixa eletrônico.
a gente tem que caminhar um bom tanto para chegar na estação de ônibus, que também não tem caixa. Daí você atravessa um estacionamento, várias ruas e chega em uma outra estação. (diga-se de passagem a -10graus) Nessa Nova estação o caixa eletrônico não está funcionando, então você negocia com o taxi, para te levar até um caixa, te levar ao hotel e cobrar apenas o taxímetro. Ok consegui.
Ele me deixa a dois quarteirões do hotel, porque é contra mão e me pede um tip (gorjeta)
No hotel, o recepcionista está atrás de uma mesa chia de comida. Disse que estava me esperando. Me leva até o quintal do hotel, abre uma porta, que passa em baixo de uma escada e chega em um quarto que fede mofo mais do que qualquer coisa.
Imagine, morto de fome e sono, digo que preciso comer. Por sorte tem um restaurante quase em frente. Ele me diz que vai embora e que se eu quiser sair ou entrar depois das 22 horas, é para eu entrar pelo terreno do vizinho.
Como a fome era enorme, eu fui.Comi bem. Na hora de pagar, eles não aceitam cartão. Explico a minha situação, sei lá como, nesse país que tem mais letra que qualquer alfabeto, vou ao hotel, pego meus solares e volto para pagar.
Quando volto ao Hotel, o cheiro estava tão mais forte que se eu ficasse ali au iria amanhecer com uma alergia que não tenho.
Visto roupa e saio a caminhar pela cidade. Perto de uma da manhã, sem saber de nada.
Encontro um hotel, negocio a diária, vou lá e pego minhas coisas.
O resto eu resolvo amanhã. O importante é que estou bem e vou dormir muito bem.
AH!!!! o motorista do taxi me lembrou que o pai da Dilma nasceu aqui.
Isso é para vocês .....
mais um AH! - acho que preciso pensar em usar meia de lã e calça mais grossa..