Muita experiência, aprendizado e gratidão. Um dia
inesquecível para minha vida.
Depois de ontem ter me irritado com o guia, que não conhecia
a cidade e me fez fazer longas caminhadas, despertei bem. Eu havia dito que não
iria fazer a caminhada prevista para ir até o alto da montanha. Já estamos a
2.630 metros de altitude, e o trajeto é para chegar até 3.150m. Eu não tenho
nem preparo físico, nem idade para isso.
A resposta de Tesch (meu guia) foi a seguinte – Eu não sabia
como reparar meu erro de ontem, então eu rezei a noite para que você consiga
chegar lá. Como não temos carro, reservei uma mula para que possa montar quando
estiver cansado.
Creio que uma força desconhecida me convenceu a tentar a
subida. Logo no início uma briga entre os donos de mulas. Por fim me fizeram
trocar de mula, pois a que eu estava não iria aguentar.
Minha emoção foi ficando cada vez mais à flor da pele,
atravessamos por lugares e casas, a mula suportava meu peso e subia cada
barranco indescritível. Meu coração palpitava entre medo, ternura, euforia e
compaixão por tudo que me era possível ver.
Eu só me lembrava do livro que estou lendo. Ele fala que em
viagens, podemos aceitar ajuda, pois assim ajudamos as pessoas a serem anjos. Essa
reflexão ecoava em minha mente. Eu havia encontrado um anjo. Muita bondade. Ele
Auaka e sua mula. Ele a comandava por voz e caminhava ao meu lado o tempo todo.
Nos momentos mais graves, quase me pegava no colo para eu descer, me ofereceu o
seu cajado, e pegava em minha mão para ajudar a escalar. Um caminho difícil com
muito pouco oxigênio, e ele segurava forte a minha mão e repetia – No problem.
Foi difícil e encantador aceitar ajuda, quebrar minha
fortaleza, confrontar uma experiência de “velhice” que precisa de ajuda para se
movimentar.
Só sei que consegui. Eles celebraram, pois grande parte dos
turistas pedem para voltar no meio do caminho. Outros fazem grande parte do
trajeto de carro. Eu cumpri minha peregrinação, sim eu peregrinei, pois me
conheci muito mais, física e emocionalmente.
O monge que estava na igreja quis me mostrar todas as
relíquia que tinha.
Na volta o mesmo carinho, e atenção dos meus três
acompanhantes (o guia, o dono da mula e seu ajudante) Eu comecei até a sentir
vergonha e por vezes estar montando uma mula, quando todos estavam caminhando
tranquilamente.
De fato eu consegui perceber os anjos, vestidos em suas
vestes típicas, com sorrisos e mãos fortes, pois essas pedras deslizam muito.
Quando atravessamos a cidade, muitos jovens, crianças saindo da escola, vinham me saudar, perguntava se eu havia ido ao monastério e se eu tinha gostado. Era uma celebração.
Claro que quando chegamos eu queria muito conseguir
agradecer além da gorjeta, é claro. Convidei Auaka para almoçar comigo. Ele
aceitou e conseguimos nos confraternizar. Ele me contou que sua mula tem 25
anos. Aqui existem 400 donos de mula que se organizam em uma fila para que cada
um tenha sua vez. Agora como o turismo é pouco, ele deve ser chamado dentro de
4 meses. Ele cobrou da agencia US$ 10,00
pela mula e US$ 5,00 por seu trabalho. Claro que dei muito mais, mas nada paga
essa aula.
Claro que depois disso estou trancado em meu quarto, exausto pelas quase 7 horas de caminhada mas, principalmente, muito emocionado e grato pelas lições que
aprendi.