Muita calma nessa hora. Estou bem, no ar condicionado do hotel, apesar do calor absurdo que faz lá fora.
Ontem o avião atrasou, um voo da American Airlines de Miami para Kingston na Jamaica. Cheguei depois das 10 da noite, portanto já passava das 2 horas da manhã no Brasil e vocês já haviam celebrado o Natal com muita comida, presentes e alegria.
Consegui transporte para o hotel, que fica numa região mais afastada e escura da cidade, embora tudo aqui pareça distante, o hotel é um antigo clube britânico, e só depois dos anos 60 os negros puderam entrar nesse local.
Mais um Natal que eu não consigo comer nada. O Hotel não tinha nada aberto, nem frio bar para eu tomar uma cervejinha.
Vale um pouco de história: A ilha, que teve a visita de
Colombo e foi dos Espanhóis até 1655, quando os britânicos tomaram a ilha.
Nessa época os espanhóis libertaram os escravos que fugiram
para as montanhas, formando os marrons (quilombos).
A abolição na ilha foi em 1838 (claro que os ingleses já
tinham problemas com o tráfico de escravos)
Jamaica se tornou província em 1958 e ganhou soberania em
1962, embora ainda sirva à Rainha.
Hoje Kingston é o 7o porto do mundo. Portanto se
alguém quiser vir para a Jamaica curtir as praias, essa não é a região do País,
é melhor ir para o outro lado da Ilha onde existem resorts.
Depois de uma boa noite de sono, descubro que tudo aqui é fechado no Natal. Consegui contratar um senhor, motorista de taxi, para fazer um tour comigo pela cidade.
A cidade silenciosa e vazia, como toda 25 de dezembro pede. Construções feias e ruas esburacadas. Conversei com ele, (um inglês muito difícil de entender, mas agente tenta) 92% da população é negra (isso eu vi no avião ontem, somente 17 brancos em um Boing lotado). Disse qu o povo é pacífico e hospitaleiro e que posso andar com a câmera fotográfica sem problema.
O senhor se oferece de me levar para conhecer o bairro onde Bob Marley nasceu.
Quando íamos entrando no bairro, eu tirei uma foto e logo um senhor gordo, sentado em frente a um bar e cercado por capangas falou que não queria ser fotografado e achando que eu tinha tirado foto dele. O motorista o acalmou e me explicou que os homens aqui não gostam de ser fotografados. Disse que o cara era um cantor de reagge que se achava muito famoso.
Uma grande tradição aqui é que desenham nos muros as grandes personalidades do País.
Pois bem, aí foi a história. Eu desci para tirar uma foto do muro. Quando entrei no carro, logo fomos cerados por umas 10 pessoas com paus e objetos na mão. Uma senhora gorda, sentada em baixo da árvore gritava algo em um dialeto que não compreendia. Uma discussão muito acalorada e em diversos momentos os homens levantavam seus porretes, como se fossem bater no carro. Queriam cobrar 20 dólares pela foto que eu tirei. O motorista, falava calmo e com um sorriso (como Martinho da Vila) explicava que era guia turístico e que ele não sabia que era proibido e que iria tomar cuidado da próxima vez. Foram alguns minutos de muita tensão e eu achei que o melhor que podia fazer era ficar calado e imóvel, já que o motorista estava aparentemente tranquilo. Foi essa foto que causou tanta tensão e stress
Imaginem o trauma de tirar foto que tomou conta desse ser...
Paramos para conhecer o lugar onde Bob Marley nasceu e cresceu, onde começou a compor.
Só então eu descobri o tanto que o motorista estava bravo e com medo do que ocorreu. A gerente do local ficou indignada e disse que isso tem ocorrido e afastado os turistas do lugar.
Não sei se podem ver na foto abaixo uma foto aérea do bairro. Não sei se pelo susto, eu senti uma hostilidade assustadora, maior que já tive em todos os lugares que já visitei.
Este lugar era um cortiço, com 16 quartos para 16 famílias.
E impressionante a paixão, admiração e quase endeusamento de Bob. e Justo aqui, onde o cara que disse que se a humanidade desse as mãos, ninguém puxaria uma arma.
Existem objetos, como sua primeira guitarra, sua primeira kombi
Assim, temeroso eu continuei a andar pela cidade. Vendo um pouco da influencia inglesa, e muito do desnível social. Pois tem até um bairro chamado Beverly Hills.
Admirável mesmo é a forma como cultuam seus heróis, há retratos pintados no muro em toda a cidade.
O mito atual o Bolt, treina nesse ginásio
Bem. Agora o desafio é achar um lugar para comer.