No voo para Piura, na revista de bordo, havia uma reportagem
sobre uma cidade do litoral onde Hemingway ficou quando escreveu o Velho e o
Mar. Claro que o interesse e a curiosidade cresceram e os planos tomam forma
rapidinho. Alugar carro, encontrar lugar para ficar e pesquisar mais. Muitas
fotos na internet, com baleias dando saltos e uma mar lindo, tudo vai
aumentando a expectativa. Sexta feira, fim do trabalho, maleta pronta, carro na
porta do hotel e a coragem de dirigir no transito peruano (uma loucura de
desordem).
A emoção de dirigir na RN1 a panamericana, rodovia dos
sonhos de aventureiro da minha juventude. O deserto se apresenta de maneira
implacável mas não consegue chamar nossa atenção. A sujeira toma conta dos
olhos e de nossa percepção. É assustador o tanto de plástico e lixo que se
mistura com a aridez do deserto.
O tempo passa, a estrada é boa, mas os olhos não se
acostumam.
Chegamos em Mâncora já escuro e no escuro de informações, se
alguém fabricar placas para sinalização das estradas pode ficar rico se
convencerem os peruanos de sua importância.
Localizamos fácil o hotel e por indicação do dono dos chalés
fomos a um restaurante excepcional.
Preciso tomar cuidado para não ficar escrevendo tantas vezes
o quanto é maravilhosa a cozinha peruana.
Caminhar pela cidadezinha com feirinha brega, comercio
simples e pouca atratividade. Pitoresco, curioso e outros semiadjetivos, em
resumo, um pouco frustrante mas deixando a esperança para o dia seguinte.
Pela manhã, como se não encontramos grandes encantos em
Mancora, depois de percorrer um milhão de tendas e lojinhas para comprar
passeios de barco para navegar com as baleias (conseguimos comprar, depois de
muito procurar, enfrentar filas de bancos locais para fazer câmbios, lembrei
que não era bem na cidade que Hemingway ficou.
Como as placas indicavam a direção de Punta Sal continuando
a estrada em direção ao norte. Lá fomos nós. Uma cidadezinha bem mais agradável
e acolhedora, algumas pousadas bem atrativas. Um bom lugar para comer e beber.
Conversando com a dona da pousada descobrimos que na verdade o escritor ficou
em outra vila, ao sul de Mancora.
Acordar cedo e ir para o porto, navegar bastante à procura
de baleias, até que elas se apresentam, muitas delas com seus filhotes, mas
nenhuma deu aqueles saltos, mesmo assim é emocionante.
Depois do banho, pegamos estrada em direção a Cabo Blanco. Uma
estradinha de terra, beirando o mar lindo, atravessando deserto em meio a
postos de petróleo. Uma paisagem nova, essa aridez com esse mar é sempre algo
difícil de encarar como natural. Será que quando eles vem para as praias do
Brasil eles acham estranho ter praias com florestas?
Mais uma vez desfrutei outro ceviche maravilho, na parede as
fotos de Hemingway com seus merlins azul e a dúvida permanente e sem respostas.
_ O que ele veio fazer aqui?